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Coleção álbum de retratos – som | Jards Macalé, por João Pimentel

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“Maldito é o cacete! Você já foi ao dicionário ver o que significa a palavra maldito?” Essa é a pergunta que Jards Macalé sempre faz quando algum jornalista se aproxima puxando esse assunto. Há algum tempo muitos artistas não se incomodavam e até se apropriavam da expressão, já que em determinado momento da história ser maldito ou marginal era até heróico. Mas, se levarmos ao pé da letra, nosso biografado tem razão de se aborrecer com a covarde alcunha a que foram submetidos ele e tantos outros contestadores da nossa música. Contestadores na forma, no conceito; artistas que não fizeram concessões, não subiram degrau por degrau a escadinha fácil do sucesso. E aí é fácil identificar Macalé, Jorge Mautner, Luiz Melodia, Walter Franco, Itamar Assumpção, Tom Zé, que em comum têm o fato de serem geniais, intuitivos, sensíveis, absurdamente criativos e, mais que tudo, autênticos. Maldito está lá no Aurélio: “Diz-se daquele ou daquilo a que se lançou maldição, condenado”; ou “Pernicioso, execrável, funesto”; e mais, “Muito mau, perverso, malvado, maligno”. Pesado, não? Mas tive a sorte de conhecer meu biografado longe das redações e dos holofotes, mais precisamente no Jardim Botânico, bairro onde fomos vizinhos por um tempo. Lembro que pedi para ele me dar umas aulas de violão, utomaticamente marcadas para o dia seguinte. Às 9h, conforme o combinado, eu estava lá. O porteiro interfonou e nada. Depois de muito insistir ele me mandou subir. Toquei a campainha e, passados alguns minutos, ouvi um barulho. Ele abriu a porta, pegou o violão e se despediu. Voltei para a casa de mãos abanando e sem aprender uma nota sequer. Mais tarde ele me ligou e disse que eu fosse la novamente. Quando cheguei encontrei meu violão na portaria com um bilhete: “Primeira aula. Trocar as cordas e limpar o seu violão que está um lixo. Como você quer que ele te dê um bom som?”.

Esta primeira atitude me fez começar a disassociar o artista - alardeado por comer pétalas de rosas, por incorporar um Batman tupiniquim - do músico que encantou os baianos, nos anos 1960 e 1970, por seu virtuosismo ao violão; do compositor de trilhas fabulosas para filmes de Nelson Pereira dos Santos como “Tenda dos Milagres” e “Amuleto de Ogum”, nos quais atuou como Pedro Archanjo e Cego Firmino; do parceiro de Waly Salomão, Capinan, Torquato Neto, Duda Machado e Vinicius de Moraes em alguns dos capítulos mais bonitos do nosso cancioneiro. Isso sem falar na parceria com Moreira da Silva, na amizade com Hélio Oiticica e Lygia Clark, no encontro inusitado com John Cage. Essas e outras reminiscências do artista estão bem contadas através de fotos guardadas ao longo da vida, organizadas por ele de forma invejável. O que sempre me chamou a atenção na obra de Macalé é o fato de, apesar de raramente ter se aventurado pela poesia, sempre se cercou de parceiros que traduzissem sua alma. Não à toa me utilizei do artifício de reproduzir alguns trechos de músicas para valorizar algumas grandes imagens do seu arquivo.
Já tinha revirado seu baú de utilidades quando começamos a pesquisar sua vida para um documentário. Mas este projeto idealizado pelo gigante Moacyr Luz possibilitou uma viagem mais intensa sobre os fragmentos fotográficos da vida de um grande cara, de um brasileiro singular. Se ao mesmo tempo Macalé foi se mostrando bem aos poucos - afinal não é fácil decifrá-lo -, acredito que essa década e alguns trocados de convívio só fi zeram reafirmar a admiração que sempre tive pelo artista e pelo homem que sonha em incluir a palavra AMOR na bandeira do Brasil.

João Pimentel

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